quinta-feira, 1 de março de 2007

Viajei na montanha (o dia dos 30)

No dia em que completei os 30 (ontem, portanto), fui obrigada a me desconectar. Estava, de fato, no olho do furacão (no texto anterior relatei meu nervous breakdown) e precisava desesperadamente pensar na vida em algum distante do mundo real. O problema é que tinha apenas um dia para isso e tive que descartar minha idéia de retiro espiritual nas Bahamas a bordo do Splendour of the Seas. Paris também estava fora de cogitação, muito frio.

Algo me dizia que o Oriente era o caminho para encontrar o que eu buscava, o que quer que fosse. O problema da falta de tempo, então, me conduziu ao lugar que há tempos queria conhecer e que, pela pouca distancia de Porto Alegre, acabava desdenhando.


Peguei meu carro e rumei ao Khadro Ling, centro de budismo tibetano construído estrategicamente nas montanhas, a uma hora e pouco da capital. Dado meu estado mental deplorável, não pude evitar de ir chorando pela BR-116. Ridículo.
Já perto da subida da montanha, me desesperei pensando que talvez de nada adiantasse ir surtar num templo budista e que talvez Freud fosse minha única salvação.


Mas na medida em que desbravava o caminho estreito de terra no meio da mata, o cérebro foi desacelerando. Cheguei na hora em que iniciava o horário de visitação e no portão, respondi pelo interfone: uma pessoa no veículo.

Sigo pela estradinha de terra e de repente, me deparo com um dos lugares mais lindos que já conheci. Minha reação física foi instantânea: ao invés de me debulhar em lágrimas como eu estava prevendo, comecei a rir sozinha enquanto me dirigia à sala de vídeo.


Evidentemente que no decorrer do vídeo explicativo não pude conter as lágrimas, que agora, contudo, eram de um certo alívio - ainda que sem saber porque.



Visitei o templo principal, li e observei nas paredes a história do Buda Shakyamuni e a trajetória do Lama Rinpoche, caminhei pelos jardins e pelas demais construções. Fiquei sentada fitando a vista espetacular dos vales e das montanhas ao redor.



O som era o do vento e o dos mantras, que, segundo a tradição, saíam dos templos e atingiam o universo num tilintar como de pequenos sinos.



Respirei fundo e tentei me livrar de todos os pensamentos negativos e me lembrar do que tinha lido do Dalai Lama e da vida de Sidarta - afinal de contas, estava ali para alterar minha realidade. Fiquei lá umas três horas.


Indo embora, me perdi na estradinha de terra e acabei saindo em outra estrada. Tudo bem, continuei em direção à Porto Alegre (sim, a direção ao menos eu sabia). A estrada não me era familiar, mas era linda. A tarde estava linda e a vista das montanhas era fantástica. Continuei descendo impressionada por nunca ter passado pela tal estrada, uma maravilha.

Até que vejo uma placa e descubro que não apenas já tinha passado por ali, como o havia feito mais de uma vez. Achei engraçado.


O cérebro humano me fascina.
Me dei conta que aquele lugar tinha me influenciado de tal maneira que tive a percepção do mundo externo totalmente alterada. Segui viagem. Kilômetros depois, tive que parar para tirar uma foto do céu, não resisti.


Contando ninguém acredia. Logo eu.

Sim, meu retiro espiritual express fez efeito!

Foi como tomar champanhe sentada, se acreditar sóbria e depois levantar. Honestamente, nunca pensei que algo assim acontecesse, que não fosse resultado de situações envolvendo substâncias entorpecentes.
(Pausa: Meu esforço para escrever esse relato está sendo sobre humano, tamanha a pieguice dos fatos. Estou respirando fundo para não excluir a foto do céu. Buda, dai-me forças.)
Bom, de qualquer forma, voltei sã e salva das montanhas.
Na verdade, meu objetivo era fazer algo que me fizesse lembrar o dia dos 30 com algum significado. Consegui. Recomendo a todos a experiência.
À noite, teve comemoração a dois, jantarzinho, presentinhos, tudo perfeitinho. Também recomendo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Emocao em forma de letras. Lindas palavras que escreveste.
A vida nos reserva tanto, que quando paramos pra refletir sobre as possibilidades, num estado de profunda auto-reflexao, por vezes entramos em parafuso. Quem sabe esse nao eh o maior misterio de todos, tentarmos enxergar nos mesmos como os outros nos veem.
Tenho por mim que o nos falta, muitas vezes, eh usar nossos instintos mais frequentemente. Tem certas coisas que a razao nao explica - believe it or not!
Querida, aproveite muito esta oportunidade que lhe aconteceu e use e abuse do virtual, experimente a vida por completo!
Beijos.

Ana disse...

Na minha opinião Vc precisava de um ritual...

Estar sozinha, ir num lugar especial, se conectar com alguma coisa além do "aqui agora"...

Isso não é piegas. É pura emoção.

Prepare-se para os 40!

:)