domingo, 25 de março de 2007

Sei, mas não faço....

Li no jornal uma escritora dizendo que se soubesse que iria morrer, pararia de fazer ginástica. Algo assim. Nem li a reportagem completa pois os livros dela são do tipo que não me chamam a atenção, mas a tal declaração me fez pensar. Mas isso da certeza da morte próxima mudar o rumo da vida não é novidade, não é disso que vou falar. Quantas vezes já se ouviu de quem, ao descobrir uma doença terminal ou após ter tido a vida ameaçada, mudou radicalmente o padrão de comportamento, alterou o curso da existência ou coisas do gênero. Há muitos livros e filmes sobre o assunto. Aliás, é uma temática para lá de chata. E brega.
O que me fez pensar, na verdade, foi o fato de que a certeza da morte é a única que possuímos, sem objeções, sem exceções e sem nenhum diferencial em relação aos demais seres humanos. Então, por que apenas a iminência do fim é que nos impulsiona a reagir ao que nos deixa insatisfeitos? Eis a questão que me obriga a refletir sobre as escolhas que fazemos no decorrer da vida.
Porque, pensando bem, qual a diferença (quando se trata de assumir o que se realmente quer da vida) de saber se morreremos daqui a um mês ou daqui a cinqüenta anos?
Em princípio, nenhuma. O fim é inadiável para todos.
Mas, então, por que agimos como se fossemos eternos? Por que adiamos as decisões importantes? Por que sentimos (mesmo estando conscientes do contrário) que teremos tempo de modificar as coisas que nos incomodam?
Não sei quanto aos outros, mas para mim isso é um martírio.
Somos vítimas da nossa própria enrolação. Vejam só que coisa patética: temos certeza de que hora ou outra não estaremos mais nesse mundo, mas ao mesmo tempo agimos como tal fato fosse alheio à realidade em que vivemos.
Há os que dirão: não, comigo é diferente, eu sou fiel aos meus propósitos, faço o que sinto que devo fazer, pois a vida é curta, etc.
D-u-v-i-d-o.
Duvido com todas as minhas forças. Até porque eu faço parte do time que se diz fiel aos próprios sentimentos e objetivos e admito que é a mais descarada mentira.
Não faço a metade das coisas que gostaria de fazer. E pior, sei disso e continuo não fazendo.
Venho procurando incansavelmente as razões desse comportamento ridículo, mas é difícil achar alguma reposta que satisfaça minha própria consciência. No mais das vezes, fico me enganando com a maior cara de pau. Sim, normalmente, acho razões externas de porque fazer ou não fazer isso ou aquilo. A explicação que mais costumo dar a mim mesma é que deixo de satisfazer minhas próprias vontades em função dos outros, para o bem dos outros, porque prefiro amargar uma insatisfação do que causar mal ao mundo. Interessante é que eu acabo acreditando nisso.
Até me considero, sim, uma pessoa generosa, mas estou longe de ser Madre Teresa.
Então, a única conclusão a que chego é que não faço o que quero porque sou um poço de egoísmo. Contrasenso? Em princípio pode parecer, mas analisando friamente, vejo o seguinte: quando não faço alguma coisa pensando que aquilo poderá ferir alguém, não o faço porque o amor ao próximo é meu lema, mas sim porque não quero sofrer com o peso da culpa! É mais fácil e cômodo ser mártir do que algoz.
Sei perfeitamente que a vida em sociedade requer certas limitações de conduta e determinados padrões de comportamento. Sei também que exigem de nós uma perfeição que ninguém é capaz de ter, mas que todos fingem perseguir. Tudo isso é perfeitamente normal, ainda que irritante.
O problema é que, nesse rítimo, vamos chegar a beira da morte com uma mala cheia de arrependimentos. De não termos feito tudo que queríamos, etc.
Não sei o que fazer. Se alguém tiver uma solução, por gentileza me avise. Estou com uma certa pressa. Não sei se não vou morrer amanhã...

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