sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sungas e Paradigmas

Há um fato que sempre me intriga e, a bem da verdade, nunca parei para analisar a fundo. Não o farei aqui, por óbvio. Vou comentá-lo, assim, livremente, para ver se chego à alguma conclusão prévia.
Sempre que estou em momentos de lazer (leia-se: não fantasiada de advogada), morro de medo de encontrar algum cliente pelo caminho, por conta da imagem que ele possa fazer ao me ver à paisana. Descobri que outras pessoas também passam por esse receio de constrangimento, especialmente as que tem profissões mais “sérias” e transitas em meios formais.
Estava caminhando na praia, fim de semana desses, com meu namorado, vestida, evidentemente, como alguém que vai à praia e falei: “espero não encontrar clientes aqui”. Aquilo me saiu como um temor natural, do qual, aliás, ele também compartilha. Passamos a divagar sobre o assunto e ele me contou que já passou por seu psiquiatra na praia, certo dia, e que ficou constrangido de cumprimentá-lo, pois o viu de bermuda, camiseta e chinelos e supôs que ele ficaria constrangido ou que também teria o sentimento de desconforto em encontrar clientes fora do ambiente de trabalho – ainda mais em trajes totalmente informais. É como o advogado de sunga que encontra o cliente acostumado a lhe ver de terno e gravata!
Falei que possivelmente faria o mesmo, não o abordaria, até mesmo para não incomodar as férias do cidadão.
Desse ponto, passamos a pensar nos motivos que levam alguém a sentir constrangimento pelo fato de ser visto em férias ou em momentos de lazer/descanso por seus clientes.
No meu caso, imagino que tenha a ver a com a persona que criei para sobreviver nesse mundo-cão empresarial: aquela que não pode errar, aquela que não aparenta cansaço, aquela que vai muito além da capacidade da média, aquela que não precisa de descanso, enfim, um monstro corporativo. E o tal monstro usa terninhos, vestidos, camisas, scarpins – tudo muito sóbrio e conotando frieza e prontidão.
Estar de biquíni, vestidinho colorido, chinelo, coques descabelados e encontrar algum cliente é um choque, já que minha necessidade de manter a máscara da profissional impecável vira tarefa impossível.
Quem me encontrar assim, poderá ter a impressão de que sou mais jovem, menos séria, mais light. Poderá ter a impressão de que não sou a fortaleza que aparento numa mesa de reuniões.
Acabo de me dar conta de que o preconceito é todo meu, pois, minha impressão ao ver um profissional em férias é justamente a de que ele possui saúde mental, organização e controle de suas atividades.
OK, paradigma ruim reconhecido. Agora é "só" destrui-lo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente colocação. É realmente difícil reconhecer o próprio preconceito. Mas também não é fácil eliminá-lo verdadeiramente, pois ele provavelmente está ligado à convicções pessoais não preconceituosas.

Daniel P.