quarta-feira, 9 de abril de 2008

Palavras e sensações

Noite em branco consentida e eu me pergunto se a busca da técnica perfeita não entorpeceu a ebulição bruta da minha mente. O projeto da ourivesaria literária me dopou as entranhas. Cadê a maldita inspiração? Perseguindo a disciplina, vejo que o afã de expor a verve pretensamente amordaçada diminuiu. Agora, leio os grandes pensando não nas respectivas grandezas, mas no suor da carpintaria. Olho o texto com visão de raio-X. Começo a achar toda a emoção falsa e programada. Se os grandes têm domínio pleno da técnica, podem muito bem estar fingindo. Aliás, já o dizia Pessoa. Nunca pensei no poeta fingidor a não ser como um chiste do gênio português, uma graça rimada do próprio ofício. Sempre pensei que os grandes não domavam a emoção fervilhante e eram justamente grandes porque suas palavras saiam prontas diretamente do pensamento inspirado para o papel. Pensar nos gênios revisando seus textos cinco, seis, dez vezes é como ter quatro anos e descobrir que Papai Noel não existe. Não que eu idealize seres humanos de modo fantástico. Apenas tinha a impressão de que a boa literatura era menos cirúrgica. Adaptar-se é preciso...

2 comentários:

Alessandro Palmeira disse...

N�o que eu acredite que a disciplina seja negada ou esquecida, mas confesso que ela tamb�m atrapalha. H� textos maravilhosos escritos num cerrar de p�lpebras, disso tenho certeza. Perdi a conta de quantas vezes estraguei textos por alterar demais.
Por vezes perde-se a ess�ncia, acredito.
Claro que a disciplina ajuda mais do que atrapalha, mas a alma do que se quer dizer, n�o surge dela.
Beijos e gosto do teu aroma em meu lugar.

Luciana F. disse...

Fico feliz de saber que não sofro sozinha...rsrsrsrs!!! É tênue a separação entre boa técnica e talento, quando se trata de lapidar o texto - por isso às vezes me irrito com a tal da disciplina. BJos!!