Dear Santa:

Não sei o quanto você está ocupado com os pedidos das crianças mundo afora, mas, por um minutinho, sente aí, sirva-se de um scotch razoável e me ouça. Querendo, pode tirar a touca, porque o calor está de rachar. Mais gelo aí? Não? Ok, então vamos lá.

Eu não sei o que houve em 2007, porque me pareceu que as pessoas, com raras exceções, estavam totalmente desconectadas de si mesmas e demasiadamente voltadas para o lado de fora. Fico pensando o que estas criaturas estão lhe pedindo. Muita purpurina, muito mis-en-scéne, muita máscara. Devem estar pedindo que os desejos dos outros não sejam atendidos, ao invés de descobrirem o que realmente desejam. Devem estar esperando que a meia na lareira do vizinho amanheça vazia. Vou lhe dizer, não sei como seu trenó não joga uma bomba de napalm pela chaminé dessa gente. Ok, não precisa dizer, eu sei que todos merecem chances extras, que poucos têm a iluminação suficiente para vibrar com o sucesso alheio e que o mundo é feito de ciclos de causa e conseqüência. Mas, sabe o que é, injustiça me tira do sério. Creio que a você também, não é? Bom, mas o que eu queria que você me deixasse na lareira é todo o seu estoque de boa convivência, de bom coração, de boa índole, de admiração genuína, de parceria e de visão do bem comum. Eu queria tudo isso pra poder distribuir por aí, pois há muita gente precisando. Não, não vou usurpar a sua função anual, não me olhe assim. É que há gente muito necessitada de regulagem interna, gente com carência de ideiais elevados, gente que perdeu a fé no mundo bom. É gente pra caramba, não sei se você dá conta. Eu realmente gostaria de ajudar, mas não tenho certeza se meu estoque é suficiente, por isso estou lhe pedindo. Tenho a impressão de que ano que vem as coisas estarão mais tranqüilas e não precisaremos ter essa conversa. Sim, sim, poderemos beber algo juntos, sem dúvida, mas espero que em comemoração à redução da meta. Claro, as crianças você continua atendendo sem restrições. A redução é no atendimento de tanta gente grande necessitada. Acho que as pessoas vão se dar conta, hora ou outra, que possuem todas as ferramentas dentro de si mesmas e que o outro está lá para compartir os frutos bons e não se constitui de ameaça, mas de reflexo. Bom, mas olhe só, caso o meu pedido lhe acarrete excesso de bagagem, esqueça. Mande só um pacotinho de amor, sabedoria e paz, que eu dou um jeito de acalmar esse povo todo.