sábado, 3 de novembro de 2007

Tema emprestado

No blog do André, há um post sobre a solidão (paradoxal) do mundo contemporâneo. Não é novo o dilema, mas vale algum comentário.
Sempre fomos sozinhos. E assim seremos até o fim dos dias. A ilusão da companhia (de qualquer natureza) que preenche o vazio é apenas a fuga do si mesmo. O homem, desde que se deu conta de sua impotência diante das adversidades da vida, desenvolve processos artificiais de compensação. Muitos deles inconscientes. É perfeitamente explicável, já que o cérebro rechaça o que se apresenta doloroso de alguma forma. Ocorre que, por mais que se creia que a solidão é negativa, jamais se poderá neutralizá-la. O indivíduo não é capaz de fundir-se com outro. Daí que sua grandeza reside justamente na individualidade e na diferença. O entorno é, sempre e de qualquer ângulo, ilusório e dependente de nossas pré-concepções, por mais cético que isso possa parecer. A consciência do ser, optando vocês por Descartes, Heidegger, Sartre ou qualquer outro, prescinde de ligações externas. É provavelmente a ilusão da necessidade vital de complemento um dos maiores dramas da humanidade. E é proporcional à artificialidade da vida moderna. Salvo raras exceções iluminadas, somos incapazes de reconhecer a auto-suficiência existencial do indivíduo e, em razão disso, cultivamos nossos fantasmas da forma como deveríamos cultivar nossa libertação. No momento em que formos capazes de reconhecer nossa condição única e crer, de fato, que somente tal entendimento nos libertará da ilusão que criamos, estaremos prontos a desconstruir qualquer sentimento de falta que porventura nos consome.
(Não estou dizendo que é fácil. Se alguém tiver alguma fórmula efetiva de fazer isso tudo entrar no meu cérebro de bicho, me diga, sou ficha 1!)

2 comentários:

Eduardo Gerhardt Martins disse...

Eu também acho que esta questão, se não é a principal, é uma das questões centrais dos nossos tempos.
Essa questão é tão abrangente na nossa vida que ela permeia todas as áreas do nosso ser.
Acho que um bom início de enfrentamento deste problema começa com o desenvolvimento da proatividade.
A falta da proatividade, nesse ponto específico que tu referiu, Lu, fica clara quando vemos muitas pessoas, até por ser mais fácil ver os defeitos dos outros, colocando a responsabilidade da sua solidão ou o fracasso de sua vida amorosa na outra pessoa.
Sei que muito se ouve falar de proatividade e muitas vezes não se dá esse conceito, para não deixar uma lacuna vou copiar o conceito que encontrei na Wikipédia:
“Característica pessoal definida pela atitude de alguém para prevenir e/ou tomar novas iniciativas. A disposição proativa é a tendência para iniciar e manter ações que irão alterar diretamente o ambiente ao redor. Ser proativo é o contrário de ser reativo.
É o ato de trazer soluções e novas idéias por iniciativa própria. Ser proativo também pode significar estar na frente dos seus concorrentes O termo proatividade está ligado diretamente à responsabilidade, ou seja, habilidade de tomar decisões.”
Bom, a minha sugestão, já que pediste, é que o caminho comece justamente por esse desenvolvimento, que nos levaria naturalmente consciência da nossa responsabilidade em relação a própria felicidade e a nossa vida.
A questão da solidão se resolve com o retorno do foco para si deixando a questão do outro como secundária.

Anônimo disse...

Lú. Tu foi muito feliz e aprofundou a abordagem do problema.
Após a convicção de nosssa finitude, acho que a solidão é a nossa maior angústia. Porém, essa pode ser administrada, ao contrário da primeira, a qual só nos resta nossa resignação.
Bjs.
André.