domingo, 26 de julho de 2009

RETORNO

Estou em fase de reconstrução do blog e das ideias que o norteiam.
Após a tomada de consciência sobre os reflexos da exposição virtual e após conclusões acerca de minha necessidade visceral de criticar o mundo a pulmões plenos, retorno ao cyberespaço determinada a opinar mais cruamente. A diferença é que o caro leitor saberá menos da cor do tapete do meu banheiro do que sobre a filosofia aplicada às notícias do meu mundo.
A fase que se inaugura merece as melhores palavras:
Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea de estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os deuses e a negaç ao deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na curculação do sangue?
Que atordoamento vazio me estalfa no cérebro?
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...
Meu deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequencia da superficie das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!
Dêem-me de beber, que não tenho sede!
(Fernando Pessoa, 20.06.1930)

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bom esse retorno!
Estavamos todos os teus leitores com saudades dos textos bem escritos e com densidade em seu conteúdo.
Um beijo.
André.