segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sobre místicos e esotéricos

Alguém já ouviu falar de um cientista nuclear esotérico? Ou de uma engenheira de produção que se denomina bruxa? Escritor que se diz mago há por toda parte, com ou sem fardão. Manicure astróloga também sobra no mercado.
E aquela sua amiga feia, quase quarentona, que acende velas aromáticas, indica florais de Bach e justifica seus fracassos amorosos pelas conjunções planetárias? Duvido que tenha terceiro grau completo. Se tiver, aposentou o diploma para abrir uma lojinha de lingerie. Ou vai ver tem um cargo público de nível médio, tipo auxiliar de oficial escrevente e vende cosméticos de catálogo para as colegas de repartição.
Lamentável. Incensos fedidos, cristais coloridos, rituais esdrúxulos. Assiste-se à derrocada da dignidade humana com a mistificação da posição da mobília. Vire a cabeceira da cama para o norte e arrumará um marido. Namore apenas com quem tenha signo compatível com o seu – segundo a consultora de um dos milhares de websites esotéricos disponíveis.
Os místicos culpam a maré, as estrelas e as pedras. Depositam a responsabilidade pelos acontecimentos em tudo que não fala, para que possam ser porta-vozes do absurdo. Acampam no meio do deserto à espera de um disco-voador que os levará para um plano superior. Aliás, eles amam a idéia do plano superior. Como se alguém intelectualmente superior, ET ou não, fosse perder tempo com um bando de descompensados dançando em volta de uma fogueira e evocando o espírito das maçãs.
E no mundo corporativo, onde se pensa estar livre de toda essa balela mística, ouço, aqui e ali, manifestações de satisfação pela não celebração de um contrato, pois a lua não estava favorável. Ou porque o horóscopo, no jornal, dizia para agir com cautela naquele dia. Faça-me o favor!
A capacidade do esotérico em transformar uma frase genérica, escrita por qualquer estagiário de jornalismo, em uma profecia pessoal, transcende minha capacidade de compreensão.
Há, também, os que circulam impunes pelas ruas, por nossas casas, em meio a nossos filhos. Mas é fácil reconhecê-los. Preste atenção. As mulheres usam saias compridas e coloridas, de extremo mau gosto, adornam-se com bijuterias exibindo seu signo do zodíaco e usam óculos com armação chamativa, preferencialmente vermelha ou púrpura. Os homens são mais discretos, mas não menos adeptos de simbologia. Usam pulseiras de cordas desfiadas ou fitas coloridas, anéis de metal energéticos e alardeiam por aí que praticam meditação transcendental. Uns dizem que até tiveram vivências extracorpóreas. Ou na Índia, de onde trazem aprendizados universais.
E todos adoram previsões do futuro. Consultam astrólogos, tarólogos, ufólogos, pais-de-santo, médiuns, ciganas e qualquer outra indicação da vizinha da amiga da colega de trabalho que garante ter descoberto previamente que teria uma doença ou que teria problemas financeiros no futuro, caso não se prevenisse.
Pergunto-me se algum desses indivíduos, possuídos pela superficialidade, não teria interesse em fazer um check-up médico anual ou ler o caderno de economia do jornal local.

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