quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Diogo Mainardi é meu pastor e, no Brasil, tudo me faltará

Eu já falei dele aqui, mas faz tempo, então vou retomar. Eu amo o Diogo Mainardi. Nada de cunho sexual, por favor. Eu amo a maneira que ele se relaciona com seu próprio texto. Azar o seu se não gosta dele. Azar o seu se gosta de bancar comunistinha engajado e prefere deconsiderar a preciosidade de palavras bem empregadas. Se você é do time que o chama de reacionário, direitão, vendidinho da veja; se você é amigo do zé dirceu, do franklin martins, do olivério medina; se você tem orgulho de ser natural do país do futuro, não leia este post.
O Diogo é o máximo. Ele escreve da mesma forma como toma um expresso depois de um almoço com vista de algum andar alto da Viera Souto. Isso eu imagino, pois não sei onde ele mora e tampouco se ele gosta de tomar café. Mas é a imagem de controle da obviedade do ambiente que me fascina. Ele é blasé e irresignado, simultaneamente. Lindo isso. Ele escreve como se fumasse um cigarro vagabundo com piteira de ouro.
Dia desses, na oficina de crônica, veio um texto para análise, com autor omitido propositadamente pelo professor. Na primeira frase eu gritei: é o Diogo! é o Diogo! E era. Óbvio que já gerou polêmica. Sempre gera. No meio dos intelectualóides sempre há os que o odeiam, assim como há os que consideram aquele ex-parceiro do raul seixas passível de ser tido literatura. Mas a vida é isso. É preciso respeitar o obtuso, o medíocre - e o mau gosto dos outros. Especialmente se os outros forem chatos e insistentes, daí você acena com a cabeça, esboça alguma feição compreensiva e pede licença para ir ao toalete vomitar.
Mas voltando ao Diogo.
Ele tem coragem de, elegantemente, dizer as verdades que nos circundam. O que ocorre do engarrafamento da manhã ao noticiário da madrugada, passando por todas as esferas do (abuso de) poder. Além da falência total de um povo emburrecido pela auto-complacência. Tá tudo lá, dentro de seu texto.
Trecho abaixo, extraído do site da veja:
"O aspecto mais gratificante de se torcer contra os brasileiros é que a gente sempre acaba ganhando. Cada medalha de bronze perdida pode ser comemorada como um triunfo. Mas nossos atletas em Pequim merecem ser festejados por algo muito mais transcendental do que o mero sucesso esportivo. Com suas humilhantes derrotas, eles ajudam a ratificar todos os estereótipos mais grosseiros sobre o Brasil e os brasileiros. O povo dócil. A cultura conformista. O caráter frágil. A personalidade titubiante. O espírito resignado. O pendor para ser eternamente café-com-leite. É reconfortante saber que o país nunca trairá nossas piores expectativas."
Perfeito. E não me venham dizer que não é nada disso, que o Brasil é um país sério e o aquecimento da economia em razao das medidas tomadas pelo governo lula (!) vai alavancar o crescimento e o desenvolvimento sustentável da terrinha. Alguém acompanhou nossa participação em Doha? Ah, tá. Só pra saber.
Ontem me ligaram da Polícia Federal para prestar informações sobre um determinando processo. A Polícia Federal, para mim, era a última fronteira da competência no sistema público. Era. Depois de alguma atrapalhação de horários, ouço o seguinte: "amanhã esteja aqui às 9h. Nove em ponto, hein?! ". Nem precisava enfatizar, mas como o agente desconhecia meu modus operandi britânico, confesso que até gostei da ênfase no horário. Avisei que melhor assim, pois tinha compromisso às 10h no escritório.
Que bom que a PF funciona, pensei. Cinco para as nove já estava lá com crachá de visitante. Às 9:40h, mandam subir e sou recebida assim: "já te mandaram subir, é?" "sim, não era pra subir?" "não, estamos em função de uma operação e..." "mas eu avisei que tinha compromisso".
Bom, saí de lá às 10:20h, depois de descobrir que as informações vindas da unidade do interior estavam todas erradas. A PF me traiu. Saí de lá em luto. O último órgão público em que eu acreditava havia se descortinado em trapalhadas. O Brasil havia infectado a PF.
Talvez eu tenha sido ingênua esses anos todos, reconheço. De agora em diante, contudo, estou com o Diogo e não abro: é reconfortante saber que o país nunca trairá nossas piores expectativas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lu, quanto ao teu gosto pelo Mainardi, tens toda razão! Ele, por exemplo, é uma das (poucas) coisas que o Brasil deveria se orgulhar...
Quanto ao blog, tá realmente difícil manter a rotina de escrever, tenho ficado completamente absorvida com o trabalho e estudos, até demais... É bom dar um "time" pro cérebro algumas vezes.
beijos,

Tales disse...

Sim, ele gosta de café. Aliás, é "viciado".