terça-feira, 6 de maio de 2008

Blues para Mimoso (A Oficina continua)

Este texto ainda não foi esculachado, digo, corrigido pelo Fabrício (rsrsrs). Mas vou postar mesmo assim e depois complemento com as correções.
"Sonhei muito tempo em ter um basset hound bem orelhudo, a quem chamaria simplesmente de Ruy. Ou Sylvio, ou Anselmo, não importa. Saberia seu nome à primeira encarada. Seria algo assim clássico, brega e cult - simultaneamente. Passaríamos as noites ouvindo B. B. King e bebendo martinis à frente da lareira. O meu, com cerejas; o dele, com azeitonas. Ele me olharia com seus olhos lânguidos e entenderia meu silêncio de cristal. Ruy definitivamente não se importaria que eu pegasse no sono de roupa e sapatos e passasse a noite na chaise longue de veludo negro da sala, pois ele mesmo jazeria entorpecido no tapete de pele logo abaixo, babando na costumeira cadência. Sylvio, ou Anselmo, amaria Buddy Guy e Steve Ray Vaughan. Usaria agasalho de gola alta nos dias frios, comeria fondue de queijo e me distrairia contando histórias fantásticas.
Ano passado, Mimoso morreu, aos dezoito anos. Teve um AVC e fui obrigada a autorizar seu sacrif'ício. Após a cremação, nào quis guardar as cinzas. Naquele dia, não fui trabalhar, pois solucei da manhã à noite. Senti como se perdesse meu passado, como se tivessem queimado minhas memórias. Ainda choro ao lembrar dele. E é provável que o faça pelo resto da vida, não sei. Por ora, ainda me estraçalha o peito.
Mimoso era um vira-latas branco e gordo, com pintas e orelhas marrons. Odiou ração desde o primeiro dia. comia sorvete napolitano e macarrão com molho e queijo ralado por cima. Assistia ao jornal nacional com meu pai e à novela das oito com minha mãe. Sempre deitado no tapete persa, cujo tom esmaecia após suas espreguiçadas. Ele soltava pelos brancos e, no máximo, levantava uma orelha quando lhe chamavam à atenção. Nunca obedecia, a não ser quando tinha vontade. Não foram poucas as vezes em que o arrastei com tapete e tudo para convencê-lo a ir para rua. Era mimado e temperamental, mas, antes de tudo, era um lutador. Foi atropelado e não morreu, foi feito refém junto com a família, teve congestões, câncer, diarréias, alergias, olho inflamado com xampu da pet shop, desapareceu três dias e voltou intacto, teve cataratas, levou até chinelada - e resistiu a tudo, firme. Até a vida desistir dele.
Lembro de que adorava pegar suas orelhas e falar-lhe ao pé do ouvido até o ponto de ter que soltá-lo para evitar uma de suas lambidas de inopino. Ele não entendia nada de música, mas quando eu tocava piano, uivava na janela.
Mimoso foi o meu Ruy sem a consciência de tê-lo sido."

6 comentários:

Larissa disse...

Uau, muito bom o teu texto, espero que o Carpinejar não esculache, eu, no lugar dele, teria piedade, rsrsrs.
Legal, Lu, gostei do teu blogue... escreves muito bem!
Obrigada pelas dicas.
Seja sempre bem-vinda no meu blogue, logo terei novidades de Portugal.

Bjus
Larissol!

Luciana F. disse...

Obrigada pela visita! Contribuições são sempre bem-vindas. Quanto à correção, já estou acostumada ao sadismo poético do professor...heheheh
Bjos

Anônimo disse...

Consegui lubrificar minhas lentes de contato.
Beijos,
Dani.

Luciana F. disse...

e eu escrevi soluçando a partir do segundo parágrafo....rsrsrsr

Anônimo disse...

Lu, sorry pelo Dog sei que você amava ele! Vi que seu blog evoluiu bem, parabens! Bjos Frances

Luciana F. disse...

Pois é, Frances, amava sim, e cada vez que lembro dele, dou uma engasgada. Mas a vida é isso...e teve tanta coisa boa tb... é isso que conta. Ele vai ficar pra sempre na minha lembrança pelos momentos bons, wherever he is.