Este texto ainda não foi esculachado, digo, corrigido pelo Fabrício (rsrsrs). Mas vou postar mesmo assim e depois complemento com as correções.
"Sonhei muito tempo em ter um basset hound bem orelhudo, a quem chamaria simplesmente de Ruy. Ou Sylvio, ou Anselmo, não importa. Saberia seu nome à primeira encarada. Seria algo assim clássico, brega e cult - simultaneamente. Passaríamos as noites ouvindo B. B. King e bebendo martinis à frente da lareira. O meu, com cerejas; o dele, com azeitonas. Ele me olharia com seus olhos lânguidos e entenderia meu silêncio de cristal. Ruy definitivamente não se importaria que eu pegasse no sono de roupa e sapatos e passasse a noite na chaise longue de veludo negro da sala, pois ele mesmo jazeria entorpecido no tapete de pele logo abaixo, babando na costumeira cadência. Sylvio, ou Anselmo, amaria Buddy Guy e Steve Ray Vaughan. Usaria agasalho de gola alta nos dias frios, comeria fondue de queijo e me distrairia contando histórias fantásticas.
Ano passado, Mimoso morreu, aos dezoito anos. Teve um AVC e fui obrigada a autorizar seu sacrif'ício. Após a cremação, nào quis guardar as cinzas. Naquele dia, não fui trabalhar, pois solucei da manhã à noite. Senti como se perdesse meu passado, como se tivessem queimado minhas memórias. Ainda choro ao lembrar dele. E é provável que o faça pelo resto da vida, não sei. Por ora, ainda me estraçalha o peito.
Mimoso era um vira-latas branco e gordo, com pintas e orelhas marrons. Odiou ração desde o primeiro dia. comia sorvete napolitano e macarrão com molho e queijo ralado por cima. Assistia ao jornal nacional com meu pai e à novela das oito com minha mãe. Sempre deitado no tapete persa, cujo tom esmaecia após suas espreguiçadas. Ele soltava pelos brancos e, no máximo, levantava uma orelha quando lhe chamavam à atenção. Nunca obedecia, a não ser quando tinha vontade. Não foram poucas as vezes em que o arrastei com tapete e tudo para convencê-lo a ir para rua. Era mimado e temperamental, mas, antes de tudo, era um lutador. Foi atropelado e não morreu, foi feito refém junto com a família, teve congestões, câncer, diarréias, alergias, olho inflamado com xampu da pet shop, desapareceu três dias e voltou intacto, teve cataratas, levou até chinelada - e resistiu a tudo, firme. Até a vida desistir dele.
Lembro de que adorava pegar suas orelhas e falar-lhe ao pé do ouvido até o ponto de ter que soltá-lo para evitar uma de suas lambidas de inopino. Ele não entendia nada de música, mas quando eu tocava piano, uivava na janela.
Mimoso foi o meu Ruy sem a consciência de tê-lo sido."
Ano passado, Mimoso morreu, aos dezoito anos. Teve um AVC e fui obrigada a autorizar seu sacrif'ício. Após a cremação, nào quis guardar as cinzas. Naquele dia, não fui trabalhar, pois solucei da manhã à noite. Senti como se perdesse meu passado, como se tivessem queimado minhas memórias. Ainda choro ao lembrar dele. E é provável que o faça pelo resto da vida, não sei. Por ora, ainda me estraçalha o peito.
Mimoso era um vira-latas branco e gordo, com pintas e orelhas marrons. Odiou ração desde o primeiro dia. comia sorvete napolitano e macarrão com molho e queijo ralado por cima. Assistia ao jornal nacional com meu pai e à novela das oito com minha mãe. Sempre deitado no tapete persa, cujo tom esmaecia após suas espreguiçadas. Ele soltava pelos brancos e, no máximo, levantava uma orelha quando lhe chamavam à atenção. Nunca obedecia, a não ser quando tinha vontade. Não foram poucas as vezes em que o arrastei com tapete e tudo para convencê-lo a ir para rua. Era mimado e temperamental, mas, antes de tudo, era um lutador. Foi atropelado e não morreu, foi feito refém junto com a família, teve congestões, câncer, diarréias, alergias, olho inflamado com xampu da pet shop, desapareceu três dias e voltou intacto, teve cataratas, levou até chinelada - e resistiu a tudo, firme. Até a vida desistir dele.
Lembro de que adorava pegar suas orelhas e falar-lhe ao pé do ouvido até o ponto de ter que soltá-lo para evitar uma de suas lambidas de inopino. Ele não entendia nada de música, mas quando eu tocava piano, uivava na janela.
Mimoso foi o meu Ruy sem a consciência de tê-lo sido."
6 comentários:
Uau, muito bom o teu texto, espero que o Carpinejar não esculache, eu, no lugar dele, teria piedade, rsrsrs.
Legal, Lu, gostei do teu blogue... escreves muito bem!
Obrigada pelas dicas.
Seja sempre bem-vinda no meu blogue, logo terei novidades de Portugal.
Bjus
Larissol!
Obrigada pela visita! Contribuições são sempre bem-vindas. Quanto à correção, já estou acostumada ao sadismo poético do professor...heheheh
Bjos
Consegui lubrificar minhas lentes de contato.
Beijos,
Dani.
e eu escrevi soluçando a partir do segundo parágrafo....rsrsrsr
Lu, sorry pelo Dog sei que você amava ele! Vi que seu blog evoluiu bem, parabens! Bjos Frances
Pois é, Frances, amava sim, e cada vez que lembro dele, dou uma engasgada. Mas a vida é isso...e teve tanta coisa boa tb... é isso que conta. Ele vai ficar pra sempre na minha lembrança pelos momentos bons, wherever he is.
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