segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Não me venha com sermão político (e muito menos ideológico)!

Lá no fundo, eu tenho vergonha de reconhecer que não tenho um pingo de esperaça nos políticos. É como uma esterilidade de sentimentos cívicos.
Não fui anarquista este ano e fiz escolha na urna.
Mas não escolhi porque acredito que as coisas melhorem; escolhi um para impedir a ascensão do outro. Só isso. Antipatizo com os do segundo lugar, então me senti reforçando a blindagem da situação.
Não me orgulho e tampouco me puno. Apenas fiz o que tinha que fazer. Psicopaticamente.
Se estivesse fazendo sol na praia, ou até se apenas tivesse menos vento, teria ficado por lá mais tempo e teria comparecido a qualquer sessão eleitoral para justificar.
"Ó, que vergonhoso!""Ó, que mau exemplo!" "Ó, como pode!" Vários ós em meus ouvidos, se não tivesse votado hoje. Vários comentários típicos dizendo que eu não poderia reclamar de coisa alguma já que não participara do processo eleitoral. E blá, blá, blá.
Eu não furo fila. Eu pago tributos mil. Eu cedo lugar a idosos. Eu sou pontual. Eu não ando pelo acostamento. Eu não jogo lixo pela janela do carro. Eu cumpro acordos. Eu devolvo troco a maior. Eu paro o carro diante da faixa de pedestres. Eu gosto de ajudar as pessoas desde que não prejudique outras.
Eu sou uma pessoa correta, por mais clichê e sem graça que isso soe.
Justamente por ser assim e ter a consciência de que morrerei dentro das raias da retidão de caráter, é simplesmente irrelevante, para mim, quem esteja encabeçando o governo (a não ser por simpatia filosófica ou coisa que o valha) - eis que todos os candidatos são incapazes de mudar o mau-caratismo coletivo - inclusos os próprios e de seus aliados (como se provou nestas décadas de circo, digo, de democracia representativa).
Assim, dizer, num país como o Brasil, que a eleição é "a festa da democracia", "a celebração do povo", "o momento em que o cidadão expressa sua vontade cívica", é o mesmo que chamar-me de palhaça ou de burra ou dos dois juntos.

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